Sacolejando nos últimos bancos do circular, encobria-se com o capuz do casaco e a máscara de tecido, que lhe cobria o rosto. Dessa vez não estava ouvindo música, era o prefeito que falava no headset . Os olhos estavam fixos em uma gota de suor no vidro do ônibus. Ela crescia conforme o ônibus lotava. Mentalmente, contava quanto tempo a gota demorava para crescer e descer pelo vidro, desaparecendo contra a borracha da janela. Não se ligava em política. Sabia que era importante, mas tinha de primeiro tentar sobreviver. Acordava cedo. Antes do sol romper a madrugada já tinha de estar na transportadora para descarregar os primeiros caminhões. Ralava até às 16:00, depois comia alguma coisa e rumava para a escola. Comer de verdade, só à noite, quando a avó esperava ele com um rango quentinho. Detestava comer sozinho. A avó, uma Sra. de setenta e cinco anos, esperava religiosamente por ele todos os dias com uma janta pronta. Mas gostava mesmo era quando ela perg...