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Hoje não foi uma aula qualquer

  A docência foi uma escolha que fiz ainda na adolescência. Na juventude, com a compreensão da complexidade da vida em sociedade, essa escolha transformou-se em uma opção política. Em quase uma década e meia de profissão, já tive a oportunidade de experimentar muitas coisas das quais me orgulho. A aula de teoria dos movimentos sociais com a turma de Rio do Sul/SC da licenciatura em Ciências da Religião/FURB será uma delas. Construímos uma roda de conversa com lideranças de movimentos sociais e associações civis da cidade. A atividade, despretensiosa em sua proposta, tinha como objetivo ser uma amostra para os estudantes dos movimentos existentes na cidade e de sua diversidade. No meio da dinâmica, atentei-me ao movimento rico que todos nós estávamos vivendo. À minha frente, uma mulher negra escancarava a indignação com o racismo; uma feminista desfilava sapatos de vítimas do machismo e da violência de gênero; um engenheiro agrônomo alertava que a forma como produzimos alimentos i...

Crônica de desaniversário

O Chapeleiro Maluco, aquele personagem doido de "Alice no País das Maravilhas", tem uma ideia genial: o desaniversário. Segundo ele, a gente pode comemorar qualquer dia que não seja o nosso aniversário. Bacana, né?  Ontem, foi meu 46° aniversário. Se eu parar para pensar, já vivi 16.744 dias. E, olha, esses dias foram cheios de coisas maravilhosas. Tá, talvez eu esteja exagerando um pouco. Nem tudo foi um mar de rosas. Teve muita dificuldade, choro, traições, dor, erro, frustração. Alguns sonhos que ficaram pelo caminho. Nem tudo foi mágico como um livro de fantasia. Mas, apesar disso tudo, também tive muitas alegrias, conquistas e vitórias. Cada dificuldade superada só fez com que os momentos de felicidade se tornassem ainda mais doces. E o melhor de tudo: ao longo dessa jornada, sempre tive amigos e amores incríveis ao meu lado, me dando força e apoio.  Foram gigantes que me colocaram sobre os ombros e literalmente me carregaram. Mesmo nos momentos mais difíceis, sempre...

Amanhã estarei de greve..

Amanhã vou me juntar à greve do magistério em Santa Catarina convocada pelo SINTE. Não fiz isso na última terça feira porque na última semana estava em Brasília envolvido em um trabalho técnico. As razões por trás dessa greve são profundas e afetam diretamente a nossa profissão e o sistema educacional como um todo. Estamos lutando pela valorização da nossa carreira, exigindo a aplicação do reajuste do piso salarial em todos os níveis e a descompactação da tabela salarial. Além disso, buscamos a revogação integral do confisco de 14% das aposentadorias e a garantia de hora atividade para todos os professores dos anos iniciais e segundos professores, com o objetivo de estender esse direito a todos os profissionais da educação. Ninguém decide aderir a uma greve com alegria. Após mais de uma década dedicada ao ensino, sinto um amargor profundo. Esta greve é um grito de desespero, uma tentativa de despertar a consciência de um governo e uma sociedade que parecem ignorar a importância da ed...

É que é a minha primeira copa

  Com o rosto no ombro do pai, perguntou o que aconteceu.  O Brasil perdeu, respondeu o pai, com uma vontade imensa que aquilo não fosse verdade. A bola chutada por Marquinhos teimosamente bateu contra a trave direita de Livakovic . -  Calma meu filho, é só futebol. Daqui quatro anos tem outra. Quem sabe nós ganhamos.  Em soluços, levantou a cabeça, deixando nos ombros paterno uma roda de lágrimas -  É que é a minha primeira copa, e o Brasil perdeu! - Eu sei meu filho O pai lembrou de um pênalti em 1986. Pensou em contar a história, mas deixou para outro dia. A lição de hoje já foi dura...

Que recuperemos a amarelinha

    Nelson Rodrigues, talvez nosso maior cronista dizia que “o brasileiro é um narciso às avessas.” Para chegar um tal vaticínio, utilizava um personagem que era seu amigo de infância. Onestaldo, um rapaz que escondia suas qualidades e gostava de ostentar em público seus piores defeitos. Fazia isso aos berros e sem nenhum constrangimento. Nelson Rodrigues comparava isso ao comportamento dos torcedores brasileiros frente a seleção brasileira de 1976. Sempre desacreditando e apontando os defeitos daquele time. E olha que a escrete canarinho naquele ano tinha entre outros, Leão, Falcão, Zico e Rivelino e Roberto Dinamite.      Neste domingo, começa mais uma copa do mundo de futebol. Não gosto do sentimento de patriotismo. Acho cafona e brega. Há quem diga até que este é o último refúgio de um canalha. Na história mundial, essa ideologia política só produziu ditaduras, guerras e mortes.   Porém, na copa do mundo é diferente. Gosto de ser nacionalis...

O povo bestializado

  Amanhã, 15 de novembro comemoramos a Proclamação da República Federativa do Brasil. O ato imortalizado no quadro pintado por Benedito Calixto, foi na verdade um golpe aplicado pelos militares na Monarquia, e apoiado pela elite econômica. Os militares estavam descontente com a monarquia porque consideravam baixos seus soldos, já a elite econômica estava insatisfeita porque o regime imperial porque este tinha posto fim a escravidão. Sim, nossa república é fruto de um golpe militar, “mercado” da época estava preocupada que o fim da escravidão poderia quebrar a economia do país. Para isso contaram para assim com o “braço forte e a mão amiga do exército.” Uma república é definhada entre outros princípios pela divisão de poderes proposto pelos autores John Locke e Montesquieu. Preocupados com a concentração de poder produzido pelos governos absolutistas, propuseram que o poder da república deveriam ser divididos em três: executivo, legislativo e judiciário      O poder ...

O errático pós Bolsonaro

  Quase 48 horas depois de se tornar o primeiro presidente a não conseguir se reeleger no Brasil, Bolsonaro finalmente decide pronunciar-se. O que a nação assistiu foi um presidente isolado, acompanhado apenas de núcleo mais radicalizado do seu governo. Com um olhar assustado, e visivelmente nervoso, Bolsonaro fez o esperado pronunciamento em pouco mais de dois minutos. O ato foi seguido com uma fuga desenfreada das perguntas da imprensa.  A lacônica cena contrasta com o Bolsonaro de 2018 que aos berros e xingamentos enfrentava a imprensa. Enquanto assistia a temperatura subindo nas ruas, os apoios ao presidente Bolsonaro derretiam. Com pouco mais de 49% dos votos no segundo turno, a leniência em pronunciar-se fez com que seus apoios ao mito, em seu primeiro ato público depois da eleição reduzissem a militantes ensandecidos por mensagens golpistas de redes sociais. Políticos e empresários que apoiaram Bolsonaro na eleição de domingo pularam da aventura golpista do mito. Os b...