Quase
48 horas depois de se tornar o primeiro presidente a não conseguir se reeleger
no Brasil, Bolsonaro finalmente decide pronunciar-se. O que a nação assistiu
foi um presidente isolado, acompanhado apenas de núcleo mais radicalizado do
seu governo. Com um olhar assustado, e visivelmente nervoso, Bolsonaro fez o
esperado pronunciamento em pouco mais de dois minutos. O ato foi seguido com
uma fuga desenfreada das perguntas da imprensa.
A lacônica cena contrasta com o Bolsonaro de 2018 que aos berros e
xingamentos enfrentava a imprensa.
Enquanto
assistia a temperatura subindo nas ruas, os apoios ao presidente Bolsonaro
derretiam. Com pouco mais de 49% dos votos no segundo turno, a leniência em
pronunciar-se fez com que seus apoios ao mito, em seu primeiro ato público
depois da eleição reduzissem a militantes ensandecidos por mensagens golpistas
de redes sociais. Políticos e empresários que apoiaram Bolsonaro na eleição de
domingo pularam da aventura golpista do mito.
Os
bloqueios e manifestações pedindo intervenção militar na verdade são as
primeiras expressões de um ator político que teremos que conviver nos próximos
anos. Uma extrema direita nas ruas. Desde domingo o brasil transborda em
violência contra pessoas comuns que tentam passar pelos bloqueios além de
inúmeros caso de violência contra profissionais da imprensa. O discurso de Bolsonaro foi voltado para
estes. O mito já mira em 2026, porém, o derrotado Presidente da República terá
que disputar espaço com outras lideranças deste campo. Exemplos são os
senadores Sergio Moro (União), Magno Malta (PL) e Damaris Alves (Republicanos).
O
ocaso do governo Bolsonaro coloca também em crise o comportamento político de
lideranças e políticos religiosos. Mergulhados até o pescoço no governo do
mito, inclusive nos seus escândalos do corrupção, apostaram seu deus na eleição
presidente. Assistiu-se profanações religiosas de todos os tipos. Figuras
nacionais e locais profetizaram e davam como certa a vitória do seu Messias.
Fizeram isso com a mesma certeza que pregam suas mensagens religiosas.
Afrontado com a realidade, vivem agora dias de comportamento erráticos. Uma
parte engrossa a fila dos golpistas, outros, mais safos, repetem o mesmo
comportamento desde a redemocratização. Já acenam para o presidente eleito. A
preocupação com os banheiros unissex e a fechamentos das igrejas logo serão
esquecidos. O importante sempre é estar próximo ao poder. Se necessário
encontram até um texto sagrado para justificar seu comportamento.
Não
obstante a isso, o novo governo já começa a se compor. Reconhecido por mais de 80 países, e pelas
principais forças interna, tenta uma coalizão possível para um governo de
transição. Desconfio que o Brasil pós-Bolsonaro será uma mistura de esperança
com angustia. Recomeça no Brasil é o processo de reconstrução da nova
república. Teremos pela frente um longo caminho que demandará aos eleitos
maturidade política e muita participação democrática da população. Que os dias escuros que vivemos nos ensine o
valor da democracia, da liberdade e da tolerância.
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