Em
15 de julho de 1978, uma senhora saiu da Rua Regente Feijó, 836, no bairro
Escola Agrícola, em Blumenau. Caminhou sozinha. Ou quase. Seguiu em direção à
Rua Pastor Stutzer, 319, no bairro Bom Retiro. No endereço de destino
funcionava, na época, a antiga Maternidade Elisabeth Koehler. Hoje, é um lar de
idosos que leva o mesmo nome.
Sozinha ela não estava. Carregava no ventre o quarto
filho. Aquela era sua sétima gravidez. O pai não a acompanhou. Não por
ausência, mas porque precisava vender sua força de trabalho em troca da
sobrevivência da família.
Os
sete quilômetros que separam um ponto do outro foram vencidos a pé. Segundo
essas tecnologias modernas de medir distância, a caminhada dura uma hora e
trinta minutos. Mas, como a mãe já estava no oitavo mês de gestação, é provável
que tenha levado um pouco mais. Não havia muita certeza sobre o destino
daquelas duas vidas. O diagnóstico médico era claro. Era uma corrida contra o
tempo. O parto precisava ser antecipado para proteger a vida da mãe. A saúde,
ou mesmo a sobrevivência do bebê, ficaria a cargo da sorte. Havia desconfiança
de que, assim como nas duas gestações anteriores, o bebê não vingaria.
O relógio da maternidade rompeu as dez horas da manhã quando o rebento nasceu. Venceu a primeira desconfiança da vida. E não só vingou. Chegou ao mundo com perfeita saúde. Talvez, superar desconfianças seja, desde então, o comum na vida daqueles dois. O menino cresceu. Tornou-se homem. Seguiu seus próprios passos. Escolheu rotas que talvez aquela senhora, lá atrás, não teria imaginado. A caminhada desses 47 anos não foi feita apenas de flores. Pelo caminho, também houve espinhos que feriram os pés e deixaram marcas na alma.
Há
oito anos, caminha sozinho. Em uma madrugada, também no mês de julho, o cansado
coração da mãe decidiu bater pela última vez. Trinta dias depois, ele ficaria
órfão também de pai. As últimas palavras do genitor foram: “és meu filho
amado”.
Desde então, aniversário virou coisa agridoce. Um misto de alegria e saudade. Não uma saudade triste. Mas daquelas nostálgicas. Daquelas que fazem a gente agarrar o tempo pelas mãos. Olhar nos olhos de Cronos. E seguir. Caminhar. Nada disso seria possível se, naquele dia de julho, uma mulher não tivesse mostrado que o melhor caminho é o da coragem.
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