Hoje
é comemorado o dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. A
história conta que, em 1717, pescadores lançaram suas redes no rio Paraíba do
Sul, em São Paulo, e encontraram uma imagem de Nossa Senhora, sem a cabeça.
Desde então, o mito de Nossa Senhora Aparecida foi se tornando a história de fé
de um país inteiro. Ela se fez mãe do Brasil, não só pelos milagres atribuídos
à sua intercessão, mas por encarnar a esperança e o acolhimento em um país que
carrega em si tantas diversidades e contradições.
Doze
de outubro é o aniversário da minha mãe. Seu aniversário era comemorado no dia
de hoje, mas a data certa de nascimento ela realmente não sabia. Seu registro
aconteceu quase uma década depois. Ela não tinha certeza nem mesmo de sua
idade. Na juventude era devota de Nossa Senhora Aparecida, deixou de ser
quando teve uma experiência mística rezando para a santa. Depois de ouvir uma
voz que ela acreditava ser divina, decidiu procurar uma igreja pentecostal. Na
igreja, junto com outras senhoras, arrecadava alimentos e roupas para
distribuir para aqueles que mais precisavam.
De
uma fé inabalável, intercedia por todos que dela se aproximavam. Não só pelos
filhos e familiares, mas também por amigos e até desconhecidos. Todos que lhe
contavam uma queixa ou dificuldade saíam com uma palavra de esperança. “Meu
filho, não pare de caminhar, porque o melhor ainda não chegou”, dizia sempre.
Sinto saudades dos dias em que, cansado, me deitava em seu colo e ela ficava
penteando meus cabelos com as mãos. Era nosso ritual. Mesmo depois que o
glaucoma roubou dela a visão.
Já nesse tempo, desejava estar no céu. Dizia ter saudades, um sentimento que imagino que só os místicos possuem. Segundo a sua fé e seu desejo, ela mora lá desde 2017. No seu enterro, percebi que o coveiro chorava. Perguntei se ele conhecia minha mãe. “Essa mulher matou muitas vezes a fome da minha família, moço. Tua mãe era mulher santa”, respondeu ele. Há uma crença popular que diz que, para as mães, os filhos são sempre crianças. Hoje, quero acreditar nisso! Também quero crer que, se o Brasil tem uma mãe, eu tive uma que era uma santa.
Lindo depoimento e relato de grande mãe e filho amoroso, poético seu texto.
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