Chamou
a atenção de todos os que acompanham a cena política, uma declaração no Twiter,
feita pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro afirmando que “A questão ideológica é tão,
ou mais grave, que a corrupção no Brasil. São dois males a ser combatido”.
Bolsonaro não é o único integrante do governo que se instala no Brasil a dizer
que é preciso um governo sem ideologia. Seus assessores mais próximos, repetem
isso a todo tempo. Assim, sem ter a pretensão de esgotar o assunto, precisamos
compreender e debater o é que é ideologia, e se é possível haver governos sem
influência ideológica.
Primeiro
é preciso compreender que a política como campo de estudo, não pode ser
descrito apenas como uma realidade voltada para a luta pelo poder. Há na atividade
política, outros princípios e valores que determinam e guiam esta atividade.
Quando estes valores e princípios são compartilhados por indivíduos, grupos e
voltados para ações práticas na sociedade, são chamados de ideologia política.
Há
duas possibilidades de definição de ideologia política como conceito. A
primeira é no sentido negativo da compreensão de ideologia. O filosofo alemão
Karl Marx aponta que ideologia seria um conjunto de falsas representações que
tem como objetivo primordial difundir os interesses da classe dominante. Para
Marx, as ideias da sociedade são as ideias da classe dominante. Isto quer dizer
que, quando uma classe se torna dominante, ela também consegue difundir sua
“visão de mundo” e os seus valores. A ideologia é, portanto um conjunto de
falsas representações que servem para legitimar e consolidar o poder burguês.
A
outra compreensão de ideologia é a ensinada pelo cientista político italiano
Norberto Bobbio. Para ele, ideologia é um sistema de crença política. Um
conjunto de ideias e valores respeitantes à ordem pública e tem como função
orientar os comportamentos políticos coletivos. Bobbio apresenta o sentido
positivo de ideologia.
Ainda
conforme Bobbio, há no espectro político, ideologias que se apresentam como
ideologias de esquerda, e outras que se apresentam como ideologias de direita.
Para operar esta divisão, o pensador italiano define que a direita não tem a
igualdade como ideal, pois a desigualdade é natural e inalterável. A esquerda
entende por igualdade como um ideal e que a maioria das desigualdades são de
natureza social e elimináveis.
Assim,
ao contrário do que o presidente eleito afirma, conforme as duas compreensões
de ideologia, não há na política, nenhuma ação que seja ideologicamente neutra.
Neste sentido, Bolsonaro faz uso apenas de uma afirmação retórica, para negar o
viés ideológico do seu governo. E quando faz isso, faz a negação da política.
[1] Texto publicado originalmente no Jornal O Município de
Blumenau no dia 27/11/2018
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