Blumenau
é conhecida por sua capacidade de organização de atividades de turismo e lazer.
São inúmeras Oktoberfest e seus desfiles, Festa Itália, Stammtisch,
Festival de Botecos, Sommerfest, Desfile de natal, etc. Todas festas populares
e que se vendem como produtos democráticos. Nossa capacidade de organização
encanta os turistas e participantes dos eventos e é sem dúvida o cartão de
visitas de nossa cidade. Não há lugar no país que você vai e identifica-se como
blumenauense que não encontre alguém que não cite um evento acima de forma
positiva.
Porém,
ontem assistimos em Blumenau uma festa realmente popular. Uma multidão tomou a Avenida Beira Rio para receber
2019. Segundo a polícia militar, foram cerca de 60 mil pessoas que assistiram a
queima de 12 toneladas de fogos. Um espetáculo que durou 15 minutos de show
pirotécnico. Antes e depois da virada, o público pode acompanhar um show de
música popular com um repertório variado.
A
multidão alegre ocupando o centro, próximo a prefeitura, contrastavam com os prédios
comerciais fechados na XV e na Beira Rio. Percebi também que as casas e prédios
residenciais do bairro Ponta Aguda estavam com as luzes apagadas. Prédios da
Ponta Aguda, que no auge da festa foram ocultados pela fumaça dos fogos de
artifícios que foram lançados do Museu da Água, da Ponte de Ferro e da Prainha.
Não
foi difícil deduzir que quando a classe média e a elite ausentasse da cidade,
os trabalhadores são permitidos vir ocupar o centro com sua festa. A avenida
Beira Rio se transformou no campo de pesquisa que todo Cientista Social cobiça
encontrar. Nele foi possível encontrar todos tipos sociais: crianças, idosos,
negros, famílias inteiras, indígenas, homossexuais, etc. Em meio a multidão era possível identificar
gente do povo. O balconista da loja, o dono da padaria, uma enfermeira que me
atendeu no Hospital Santa Isabel, e uma série de ex-alunos que estudaram comigo
nas escolas públicas da cidade. Era como se na noite de crepúsculo de 2018 e de
nascimento de 2019 a cidade criou um ritual para encontrar-se consigo
mesma.
Se
parecia e muito com aquele mundo invertido que Roberto da Matta vê no carnaval
carioca. Aquele que foge da categorização social imposta pela dureza do
cotidiano estratificado. Não que não havia elementos de distinção social, como
os celulares e as champanhes mais caras. Todavia, todos dividiam o mesmo
espaço, digamos o mesmo elevador, a mesma rua, a "escada de serviço”.
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