Bolsonaro
chegou a Presidência da República na esteira da anti-politica. Apresentou-se ao
eleitor como uma novidade. Nos discursos costumava fazer críticas ao centrão
definido por ele como a “nata do que tem de pior na política brasileira.” Hoje,
depois de anunciar o deputado Ciro Nogueira (PP/PI) para o Ministério da Casa
Civil, o presidente declarou-se do Centrão.
“O Centrão é um nome pejorativo. Sou do Centrão. Fui do PP metade do meu tempo.
Fui do PTB, fui do então PFL. No passado, integrei siglas que foram extintas”.
Em
Maio de 2019, no início do governo eu escrevi uma crônica mostrando as
“relações genéticas” entre o presidente e o grupo político. O filho ingrato
hoje voltou pra casa.
Segue abaixo o texto publicado na época:
No
Brasil as relações ente família e política se confundem, porém nunca elas foram
tão escrachadas como agora. Parece que a família Bolsonaro adora um barraco
público, preferencialmente no twitter. Outra característica do
Bolsonarismo é a busca de legitimidade pelo conflito. Cada semana temos um
inimigo diferente. O inimigo da hora é o centrão. No último domingo, o grupo de
manifestantes que foram as ruas em defesa do governo se insurgiram contra o
grupo político. Claro que seguiram uma série de declarações do presidente.
O
centrão, como campo político parlamentar, surge na cena política brasileira
durante a constituição de 1987. O grupo de diversos partidos conservadores e de
direita uniram-se a parte do PMDB e passaram atuar em bloco. O objetivo era dar
apoio ao presidente José Sarney. Boa parte dos partidos que compunham o centrão
durante o governo Sarney, eram oriundos da ARENA, partido de direita que dava
sustentação a ditadura militar que o presidente saúda e que no último 31 de março,
determinou que o recebesse as "comemorações
devidas".
Mais
tarde, durante o governo Dilma Rousseff (PT) o centrão voltaria a ter
protagonismo político sob a regência de Eduardo Cunha (PMDB). Neste período
faziam parte do centrão cerca de oito partidos políticos, entre eles o Partido
Progressista – PP do então deputado Jair Bolsonaro que esteve filiado de 2005 a
2016. Eduardo Cunha, assim como o centrão, foram os principais
articuladores da queda da presidenta. Na seção de abertura de impeachment de
Dilma, Bolsonaro ao justificar o voto elogiou Eduardo Cunha dizendo que o então
presidente da câmara entraria para a história.
Durante
o governo Temer, foi o centrão que ocupou o maior número de ministérios no
Palácio do Planalto e foi a principal força política no congresso nacional.
Chegou a contar com 270 deputados. Nesse período, o número de
partidos pertencente ao bloco parlamentar também cresceu, subindo para 13,
dentre eles o Partido Social Liberal – PSL, atual partido do capitão. Entre
os feitos do centrão no governo Temer, foi o engavetamento de dois processos
de impeachment de Michel Temer.
Bolsonaro,
nos últimos 27 anos, foi deputado federal. Durante esse período, foi eleito e
reeleito deputado por partidos que compõe esse campo parlamentar. O conflito
com esse grupo, parece muito como briga de família, de um filho, que agora
demonstra-se ingrato com o mecanismo político que o pariu.
Texto publicado no Jornal O
Municipio de Blumenau no dia 28/05/2019 https://omunicipioblumenau.com.br/bolsonaro-e-um-filho-ingrato-centrao
Comentários
Postar um comentário