A
docência foi uma escolha que fiz ainda na adolescência. Na juventude, com a
compreensão da complexidade da vida em sociedade, essa escolha transformou-se
em uma opção política. Em quase uma década e meia de profissão, já tive a
oportunidade de experimentar muitas coisas das quais me orgulho. A aula de
teoria dos movimentos sociais com a turma de Rio do Sul/SC da licenciatura em Ciências da Religião/FURB será uma delas. Construímos uma roda de conversa com
lideranças de movimentos sociais e associações civis da cidade. A atividade,
despretensiosa em sua proposta, tinha como objetivo ser uma amostra para os
estudantes dos movimentos existentes na cidade e de sua diversidade.
No
meio da dinâmica, atentei-me ao movimento rico que todos nós estávamos vivendo.
À minha frente, uma mulher negra escancarava a indignação com o racismo; uma
feminista desfilava sapatos de vítimas do machismo e da violência de gênero; um
engenheiro agrônomo alertava que a forma como produzimos alimentos influencia o
modelo das cidades em que vivemos; uma funcionária pública lembrava que o
Estado só faz sentido se atender os usuários da política de assistência social,
porque são os mais vulneráveis de nossa sociedade, e que, se não for por eles,
a política pública perde seu propósito. Um árabe despertava nossa indignação por
uma Palestina ocupada, e um líder comunitário esfregava na nossa cara que a
indignação política mais próxima e importante é aquela que atinge nossos
vizinhos e nossos bairros.
Hoje não foi uma aula qualquer. Foi daquelas em que, por mais que você saia moído de cansaço, sai com o peito estufado. Não de um orgulho egoísta, mas de uma certeza: a de que, ainda na inexperiência, quando a vida era uma aventura, fiz a escolha mais acertada. Escolhi uma profissão mágica. Saio cheio de convicção de que, quando nos sentamos para ouvir o próximo, aprendemos muito mais; e de que, quando a universidade abre as portas para aqueles que normalmente não ocupam nossos currículos, nosso fazer científico se enriquece.
A lição que o professor levou para casa hoje foi que, mesmo que as
estruturas econômicas, políticas e religiosas insistam em nos dividir,
segregar, escravizar, silenciar e oprimir, nenhuma delas é páreo para o poder
do diálogo. Aprendemos que a libertação só é possível em comunhão. Uma prática
pedagógica verdadeiramente libertadora deve ser construída junto com aqueles
que buscam a libertação, num diálogo que se faz com eles, e não para eles.
O pulso ainda pulsa.
ResponderExcluir